Reflexão Jonathan Edwards – Orgulho Espiritual

Hoje gostaria de compartilhar uma reflexão sobre Orgulho Espiritual, retirada do livro “A Genuína experiência espiritual” de Jonathan Edwards.

Jonathan Edwards foi um pregador congregacional, teólogo calvinista e missionário de índios americanos, foi considerado um dos maiores filósofos norte-americanos. Conheça mais sobre ele aqui.

Orgulho Espiritual – Jonathan Edwards

Humilhação espiritual é o sentimento que tem o cristão de quanto é insuficiente e detestável, levando-o a rebaixar-se e exaltar somente a Deus. Ao mesmo tempo, há um outro tipo de humilhação que podemos chamar de humilhação legal. Humilhação legal é uma experiência que somente os incrédulos podem ter. A lei de Deus opera em suas consciências, fazendo com que percebam quão pecaminosos e inúteis são. Entretanto, não vêem a natureza odiosa do pecado, nem renunciam o pecado em seus corações, nem se rendem a Deus. Sentem-se como que forçados a serem humildes, mas não têm humildade. Sentem o que todas as pessoas más e diabólicas sentirão no Dia do Juízo – condenados, humilhados e forçados a admitir que Deus está certo, porém continuam não convertidos.
Humilhação espiritual, por outro lado, brota do sentido que o verdadeiro cristão tem da beleza e glória da santidade de Deus. Faz com que sinta quão vil e desprezível é em si mesmo devido à sua iniqüidade. Leva-o a se prostrar voluntária e alegremente perante os pés de Deus, negando a si mesmo e renunciando a seus pecados.
Humilhação espiritual é da essência da verdadeira religião. Aqueles que carecem dela não são cristãos verdadeiros, não importa quão maravilhosas possam ser suas experiências.
As Escrituras são bem completas em seu testemunho da necessidade dessa humilhação: “Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os de espírito oprimido” (Sal. 34:18). “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito não o desprezarás, ó Deus” (Sal. 51:17). “Assim diz o Senhor: o céu é o meu trono, a terra o estrado dos meus pés … mas o homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito, e que treme da minha palavra” (Is. 66:1-2). “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mat. 5:3). Vejam também a parábola do fariseu e do publicano, Luc. 18:9-14.
Humilhação espiritual é a essência da auto-negação cristã. Consiste em duas partes. Primeiro, um homem deve negar suas inclinações mundanas e renunciar a todos os prazeres pecaminosos. Em segundo lugar, deve negar à sua natural concentração em si mesmo e auto-afirmação. Essa segunda parte é a mais fácil de realizar. Muitos fizeram a primeira sem atingir a segunda; rejeitaram os prazeres físicos, somente para sentir o prazer diabólico do orgulho.
É claro, hipócritas orgulhosos fingem ser humildes, porém geralmente interpretam mal esse papel. Sua humildade geralmente consiste em dizer aos outros como são humildes. Dizem coisas como: “Sou o menor de todos os santos”, “Sou uma pobre e vil criatura”, “Meu coração é pior que o diabo”, etc. Dizem essas coisas e ainda assim esperam que os outros os vejam como santos notáveis. Se outra pessoa dissesse sobre o hipócrita as mesmas coisas que ele diz sobre si mesmo, como ficaria ofendido!

Orgulho espiritual pode ser muito sutil, disfarçando-se como humildade, mas existem dois sinais que evidenciam sua presença:
(i) O homem orgulhoso compara a si mesmo com os outros nas coisas espirituais, e tem uma opinião exaltada sobre si mesmo. Está ansioso por liderança entre o povo de Deus, e deseja que sua opinião seja lei para todos. Quer que os outros cristãos tenham-no como exemplo e o sigam em questões de religião.
O homem verdadeiramente humilde é o oposto disso. Sua humildade faz com que pense que os outros são melhores do que ele mesmo (Fil. 2:3). Não é normal que tome sobre si mesmo o posto do professor, pois pensa que outros estão mais preparados que ele, como fez Moisés (Ex. 3:11-4:7). Está mais ansioso por ouvir do que por falar (Tg. 1:19). E quando fala, não é de modo ousado e auto-confíante, e sim com temor. Não aprecia exercer poder sobre os outros, preferindo seguir a liderar.
(ii) Outro sinal certo de orgulho espiritual é que o homem orgulhoso tende a pensar muito bem de sua humildade, enquanto o homem verdadeiramente humilde pensa que é muito orgulhoso!

Isso decorre de o homem orgulhoso e o humilde terem diferentes pontos de vista sobre si mesmos. Medimos a humilhação de um homem por nossos pontos de vista sobre a dignidade e grandeza que lhes são próprias. Se um rei se ajoelhasse para tirar o sapato de outro rei, consideraríamos isso um ato de rebaixar a si mesmo, assim como sentiria o rei que o tirou. Em contraste, se um escravo se ajoelhasse para remover o sapato de um rei, ninguém pensaria ter sido esse um ato de grande rebaixamento, ou sinal de grande humildade. O próprio escravo não pensaria isso, a não ser que fosse ridiculamente cheio de si. Se depois o escravo saísse alardeando da grande humildade que demonstrou ao remover o sapato do rei, todos ririam dele! “Quem você pensa que é, diriam, para supor ter sido humilde ao tirar o sapato do rei?”
O homem orgulhoso é como o escravo cheio de si. Pensa ser um grande sinal de humildade confessar sua indignidade perante Deus. Isso decorre de ter um alto conceito de si mesmo. Quão humilde ele é ao confessar sua indignidade! Se tivesse uma visão apropriada de si mesmo, iria antes se sentir admirado e envergonhado de não ser mais humilde perante Deus.
O homem verdadeiramente humilde nunca sente que se rebaixou o suficiente perante Deus. Sente que não importa quanto se proste, poderia prostrar-se ainda mais.
Sempre sente que está acima de sua posição própria perante Deus. Olha para sua posição e para aquela onde deveria estar, e parece estar a uma grande distância dessa. Chama à distância “orgulho”. É seu orgulho que lhe parece ser grande, não sua humildade. Não parece para ele ser um grande sinal de sua humildade que se deite no pó aos pés de Deus. Ele pensa que é exatamente onde deve estar.
Leitor, não se esqueça de aplicar estas coisas a você mesmo. Acaso você fica ofendido quando alguém pensa que é um cristão melhor do que qualquer outro? Pensa que essa pessoa é orgulhosa e que você é mais humilde que ela? Então tenha cuidado, caso que se torne orgulhoso de sua humildade! Examine a si mesmo. Se concluir, “Parece-me que ninguém é tão pecador quanto eu”, não fique satisfeito com isso. Você pensa ser melhor do que os outros por admitir que é tão pecador? Tem uma alta opinião dessa sua humildade? Se você diz: “Não, eu não tenho uma opinião elevada de minha humildade, penso que sou tão orgulhoso quanto o diabo’”, então examine-se de novo. Porventura você está orgulhoso do fato que não tem uma opinião elevada sobre sua humildade? Você pode ter orgulho de admitir quão orgulhoso você é!

Espero que esta reflexão seja útil pra você, como tem sido útil para mim.

Deus abençoe!

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