Carne Processada X Risco de Câncer

Semana passada o assunto da vez foi o relatório oficial da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre o assunto. Onde se classifica como carne processada – bacon, linguiça, salsicha, carne seca, entre outras – considerados alimentos “sabidamente carcinogênico”, isto é, que favorece o aparecimento de câncer, em especial o câncer de intestino.

E a pergunta que não quer calar:

  • “Vou ter que parar de comer carne processada para sempre?”, ou
  • “Comer só um pouquinho faz mal?”.

A ingestão em demasia de carne vermelha, embutidos e álcool pode estar relacionada ao surgimento do câncer colorretal.

Para entender o assunto, primeiro é preciso esclarecer que a carne processada é um alimento que passa por um longo processo de conservação para prolongar sua vida útil e realçar o sabor. A grosso modo, isso equivale a afirmar que é um produto fresco de origem animal que é transformado, sofrendo alteração de cor e textura, por exemplo. Também é importante dizer que não há nenhum método de conservação (salmoura, defumação etc.) que ofereça menos riscos.

Além disso, essas carnes podem receber aditivos além do sal, como os compostos fixadores de cor (nitrato), que fazem mal à saúde. Mesmo as linguiças que são feitas artesanalmente estão na mira da OMS.

Samuel Aguiar Junior, cirurgião oncologista e diretor do Núcleo de Tumores Colorretais do A. C. Camargo Câncer Center, em São Paulo, explica que o processamento da carne pode formar compostos químicos cancerígenos, como os N-nitrosos e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, que são nocivos ao organismo.

“Esses aditivos causam danos nas células da mucosa intestinal e afetam a estrutura do DNA. Com isso, elas podem se multiplicar de maneira desordenada”, explica.

Mas será que consumo moderado desse tipo de carne também é prejudicial? No documento, a OMS afirma que 50 gramas de carne processada por dia (o equivalente a duas fatias de bacon ou uma salsicha) aumentam o risco de desenvolver câncer colorretal em 18%. A avaliação foi feita pelo LARC (Agência Internacional de Pesquisa do Câncer), instituto de pesquisa ligado à entidade, que analisou o risco que esses alimentos apresentam de provocar doenças. Logo, a carne processada foi inserida no Grupo 1 junto com o tabaco e outras substâncias.

Mas que fique claro: a carne processada entrou na mesma categoria do cigarro porque foram feitos estudos que demonstram o seu potencial carcinogênico em seres humanos, ou seja, está claro que causam câncer. Entretanto, fumar cigarro aumenta o risco de câncer (de cabeça e pescoço, de pulmão, entre outros) em mais de 2000%, número bem superior aos 18% do risco de consumir carnes processadas.

“Por isso é preciso muito cuidado ao interpretar essa mudança. Fumar faz muito mais mal que consumir carne processada. Só a fumaça do cigarro tem mais de 4 mil substâncias tóxicas”, esclarece o Dr. Samuel.

Ainda assim, na opinião do médico, não existe um consumo aceitável de carne processada. Contudo,  não é necessário  ser radical a ponto de excluir toda carne processada de sua dieta da noite para o dia. Comece eliminando-a aos poucos e priorize opções mais saudáveis. A ideia é não fazer desse tipo de alimento sua única opção de proteína.

“Se para a carne vermelha o preconizado é consumir cerca de 70 gramas diários, o que representa um bife bem pequeno, a carne processada teria que ser consumida somente uma vez por mês no máximo. O ideal seria evitá-la e procurar não inseri-la no cardápio do dia a dia”, enfatiza o oncologista.

Segundo o médico, não foram analisados os efeitos das carnes processadas de frango e peru (incluindo o peito de peru), portanto eles são desconhecidos.

E a carne vermelha? Essa também não ficou de fora do estudo. Toda carne que vem dos músculos de qualquer mamífero (boi, cavalo, vaca, cabra, cordeiro, entre outros) é considerada vermelha. Portanto, aves e peixes não entram na lista.

No estudo da OMS, a carne vermelha passou a ser considerada “fator de risco provável para câncer”. No entanto, ainda não há consenso sobre seu risco.

Dr. Fernando Maluf, diretor de oncologia clínica do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes, explica que nesse estudo foi demonstrado que para cada 100 gramas de carne vermelha ingeridas, existe um risco de 17% de câncer de intestino. Ela também pode estar associada ao risco de câncer de próstata. “Mas isso não significa que esse tipo de carne deva ser eliminada do cardápio, até porque ela contém ferro, proteínas e vitaminas que são essenciais para o organismo. Deve ser consumida, no máximo, de duas a três vezes por semana.”

Fonte: Por que a carne processada aumenta o risco de câncer? – Drauzio Varella

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